Numa visão Espírita

Textos baseados no Estudo do livro Gênesis de Moisés transmitido no portal SER com Haroldo Dutra Dias. Com a utilização dos resumos postados no Grupo de Estudos de Gênesis no Facebook. Qualquer erro gramatical, textual, morfossintático, ortográfico, etc é de responsabilidade exclusiva da administração do Blog.




Religião

A religião do povo hebreu passou por grande evolução que vai das mais grosseiras superstições até as concepções espirituais e éticas mais sublimes. Em parte isso pode ser explicado pela posição geográfica especial ocupada pelo povo hebreu. Localizados onde estavam, depois da conquista de Canaã, no caminho de ligação entre o Egito e as maiores civilizações da Ásia, viram-se fadados a sofrer uma extraordinária variedade de influências . 
É possível distinguir, na religião hebraica, pelo menos quatro períodos diferentes.
1) O período Pré-mosaico;
2)O período de monolatria nacional;
3) O período da revelação profética;
4) O período posterior ao exílio.

1- O período pré-mosaico.
Esse período pré-mosaico vai das mais primitivas origens do povo até aproximadamente 1250 a.C. Essa fase caracterizou-se, a princípio pelo animismo - a adoração de espíritos que residiam em árvores, montanhas, poços e fontes sagradas, ou mesmo em pedras especiais. Eram praticadas também, nesse tempo, diversas formas de magia: necromancia, magia imaginativa, sacrifícios de bodes expiatórios, etc. Numerosos vestígios dessas crenças e práticas remotas estão preservadas no Velho Testamento.
Deuses Antropomórficos - Gradualmente o animismo cedeu lugar a deuses antropomórficos. Não se pode determinar como ocorreu essa transição. Talvez se relacionasse ao fato de a sociedade hebraica ter-se tornado patriarcal, isto é , o pai exercia autoridade absoluta sobre a família, e a descendência era patrilinear. Talvez se jugasse que os deuses ocupassem posição  semelhante no clã ou tribo. Ao que parece, poucos das novas divindades já haviam recebido nomes; em geral cada uma delas era designada pelo nome genérico de "El", isto é, "deus". Eram deuses tutelares de lugares especiais e, possivelmente, de tribos distintas. Não se conhecia nesse tempo a adoração de Iavé em amplitude nacional. 
2 - O período da monolatria nacional.
O segundo período, que se estendeu do século XIII ao IX a.C., é chamado frequentemente de período de monolatria nacional. O termo pode ser definido como adoração exclusiva de um único deus, sem, no entanto negar a existência de outros deuses. Devido principalmente a influência de Moisés, os hebreus adotaram então, como divindade nacional, um deus cujo nome parece ter sido escrito "Yhwh". Ninguém sabe como se pronunciava essa palavra, mas os especialistas em geral concordavam que era proferida como se estivesse escrito "Iavé". O significado é também um mistério. Perguntando Moisés a Iavé o que deveria dizer ao povo quando este quisesse saber qual deus o tinha enviado, Iavé respondeu: "EU SOU O QUE SOU. Disse mais: assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou até vós".(Êxodo 3, 13-14).
No tempo de Moisés e por dois ou três séculos depois, Iavé foi uma divindade bastante singular. Era concebido quase exclusivamente em termos antropomórficos. Possuía um corpo físico, além das qualidades emocionais dos homens. Era por vezes caprichosos e um tanto capaz de julgamentos maus e raivosos quanto de bons.  Suas decisões eram frequentemente arbitrárias, e ele punia homens que pecassem sem intenção com a mesma presteza  com que punia aqueles cuja culpa fosse real. Por exemplo, matou Uzza somente porque o pobre homem colocou a mão na Arca da Aliança, para sustê-la, enquanto era transportada para Jerusalém. (Crônicas I 13, 9-10). A onipotência dificilmente seria atributo  a que Iavé pudesse pretender, pois seu poder se limitava ao território ocupado pelos homens hebreus, Não obstante, algumas das mais importantes contribuições hebraicas ao subsequente  pensamento ocidental foram formulados pela primeira vez nesse período. Foi nesse estágio que os hebreus passaram a acreditar que deus não fazia parte da natureza, mas colocava-se inteiramente fora dela, e que os seres humanos, conquanto integrassem a natureza, torvam-se os dominadores desta por dispensação divina. Essa teologia "transcendente" significou que Deus pode ser gradualmente compreendido em termos puramente intelectuais ou abstratos, e que a humanidade pode ser vista como possuidora de potencial para alterar a natureza como lhe aprouvesse.
A religião nesse período não era nem essencialmente ética nem profundamente espiritual. Iavé era venerado como legislador supremo e mantenedor inflexível da ordem moral do universo. De acordo com a narração bíblica, ele ditou os Dez Mandamentos a Moisés no cume do monte Senai. Não obstante, os biblicistas versador no Velho Testamento em geral não aceitam essa tradição. Admitem que o Decálogo primitivo tenham existido nos tempos de Moisés, mas duvidam que os Dez Mandamentos, na forma em que estão conservados no livro do Êxodo, datem de época anterior ao século VII a.C. De qualquer forma, é evidente que o Deus de Moisés se interessava quase tanto pelos sacrifícios e pela observância dos ritos como pela boa conduta e pela pureza de coração. Além disso,  a religião não se preocupava fundamentalmente com assuntos espirituais. Nada oferecia além de recompensas materiais nesta vida, e nenhuma na vida futura. Finalmente, a monolatria estava misturada com certos elementos de fetichismo, magia e mesmo superstição grosseiras que haviam ficado de tempos mais primitivos ou que foram sendo adquiridas paulatinamente dos povos vizinhos. Variavam tais elementos desde a adoração da serpente até os sacrifícios sangrentos e orgias de fertilidade.
3 - O período da revolução profética
O trabalho realmente importante da reforma religiosa foi realizado pelos grandes profetas: Amós, Oseias, Isaías, e Miqueias. O período da revolução profética ocorreu no século VIII e VII a. C. Os grandes profetas eram homens de visão mais larga do que seus predecessores. Três doutrinas básicas formavam a substância de seus ensinamentos: 1)Monoteísmo rudimentar - Iavé é o senhor do universo; ele chega a utilizar outras nações que não os hebreus para cumprir seus desígnios; os povos de outros povos são falsos e não deveriam ser cultuados sob pretexto algum. 2) Iavé é exclusivamente um deus de retidão; Ele não é realmente onipotente, mas Sua força é limitada pela justiça e pela bondade; o mal deste mundo vem dos homens e não de Deus. 3) Os fins da religião são principalmente éticos; Iavé não faz nenhuma questão de ritos e sacrifícios, mas sim que os homens "aspirem à justiça, ajudem os oprimidos, façam justiça aos órfãos e defendam as viúvas". Ou, como Miqueias se expressou: "Foi-te anunciado, ó homens, o que é bom, e o que Iavé exige de ti: nada mais do que praticar o direito, gostar do amor e caminhar humildemente com o teu Deus!" (Miqueias 6,8).
Nessas doutrinas estavam contidas um repúdio categórico de quase tudo o que a religião mais antiga representara. Ao que parece, entretanto, tal não era a intenção dos profetas. Concebiam que era sua missão devolver à religião sua antiga pureza. As grosserias nela encerradas eram vistas como corrupção estrangeiras. Contudo, como acontece frequentemente com esse tipo de líderes, realizavam algo mais profundo do que pretendiam. Na prática, suas realizações foram tão além dos objetivos originais que equivaleram a uma revolução religiosa. Em grande medida, essa revolução teve também seus aspectos sociais e políticos. A riqueza se concentra nas mãos de uns poucos. Milhares de pequenos lavradores tinham perdido sua liberdade e passado a sujeição de ricos proprietários. Darmos crédito ao testemunho de Amós, o suborno era tão corrente nos tribunais de justiça que num processo de dívida, somente por dar ao juiz um par de sandálias o querelante receberia, em ganho de causa, o acusado como escravo. (Amós 2:6). Sobre tudo isso pairava a ameaça de dominação assíria. A fim de capacitar a nação a enfrentar essa ameaça, acreditavam os profetas que os abusos sociais deveriam ser erradicados e o povo unido sob uma religião expurgada de corrupções alienígenas. 
Os resultados dessa revolução não devem ser mal interpretados. Ela destruiu algumas formas mais flagrantes de opressão e extirpou em grande parte os barbarismos que se haviam se enunciado na religião, vindo de fontes estrangeiras. Mas a fé hebraica ainda não era uma religião que apresentasse clara semelhança com o judaísmo ortodoxo moderno. continha pouco caráter espiritual. Em lugar de cogitar da vida do além, era orientada para essa vida. Seus fins eram sociais e éticos - promover uma sociedade justa e harmônica e reprimir a desumanidade para com o homem - e não conferir a salvação depois da morte. Ainda não existia a crença no céu e no inferno, ou em Satã como poderoso opositor de Deus. As sombras dos mortos desciam ao Xeol, onde demoravam algum tempo no pó e na obscuridade, e depois desapareciam.
4 - O período posterior ao Exílio.
O último período significativo da evolução religiosa hebraica foi o estágio pós-exílio, ou de influencia persa. Lembremos que o zoroastrismo era uma religião dualista, messiânica, extraterrena e esotérica. No período que se seguiu ao exílio na Babilônia, essas ideias ganharam ampla aceitação entre os judeus. Adotaram eles a crença em Satã como o Grande inimigo e o autor do mal. Desenvolveram uma escatologia  (conjunto de doutrinas referentes aos fins dos tempos) que incluía certas concepções como a vinda de um redentor espiritual, a da ressurreição dos mortos e a do Juízo Final. voltaram sua atenção para a salvação num mundo extraterreno, como sendo mais importante que o gozo desta vida. Finalmente adotaram a concepção de uma religião revelada, ou seja, consideravam os livros de sua Bíblia como tendo sido inspirado diretamente pelo próprio Deus.


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